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Clarin.com
29/04/18

Bernardo Kosacoff: "La Argentina avanzó mucho durante el Gobierno de Macri. Pero todavía estamos a mitad de camino"

Por Marcia Carmo

Bernardo Kosacoff, profesor de la Escuela de Negocios UTDT, elabora una radiografía de la economía argentina y declara: "Soy optimista y creo que hemos hecho avances muy grandes, pero tenemos temas para resolver."



Em quase uma hora de entrevista, Kosacoff, que é ex-diretor da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), responde sobre inflação, alta do dólar, produtividade e outros temas.

A Argentina registra inflação alta, e não deve cumprir novamente, neste ano, a meta fixada pelo Banco Central. A economia cresce, mas há muita preocupação com os preços. Qual é sua opinião sobre a situação da economia argentina hoje?

Primeiro temos que lembrar como o governo anterior deixou a Argentina em 2015. Se compararmos com aquele momento, acho que ocorreram melhoras em muitos sentidos. Em 2015 estávamos à beira do precipício em termos da possibilidade de uma grande crise econômica, e ao mesmo tempo havia aumento da pobreza e da desigualdade. Mas isso não era percebido pelas pessoas.

A Argentina tem um histórico de fortes crises.

A Argentina viveu muitas crises. A partir de 1975, desde o ‘Rodrigazo’ (no governo de Isabel Perón) em diante, a Argentina passou a ser o país mais volátil do mundo e com situações muito terminais. Tivemos crises de hiperinflação, da dívida, e quando se romperam todos os contratos da economia, com o fim da conversibilidade. As saídas das crises argentinas não foram resultado da habilidade dos economistas. Foram os setores menos favorecidos que financiaram a saída das crises. A Argentina foi, até o início dos anos 1970, um país quase europeu em termos de equidade e com apenas 6% de pobreza e 4% de desemprego. Tínhamos educação de alta qualidade. Ou seja, um país com bem-estar social. Caímos, 30 ou 40 anos depois, com uma corresponsabilidade de todos, em um processo que podemos denominar de laboratório de expulsão social...

A história crise de 2001 marcou a Argentina...

A de 2001, a do Tequila de 1995, as crises de hiperinflação em 1989 e 1990, a crise de 1981. Ou seja, três décadas de permanentes crises que foram financiadas por um brutal fenômeno de exclusão social. E as crises fiscais acabaram afetando as políticas públicas. Saúde, educação, transporte e etc. Ou seja, o bem estar.

Como o senhor vê o governo Macri? O que foi feito de 2015 até agora?

O problema é que em 2015 as pessoas aqui achavam que estávamos melhor do que realmente estávamos. Este foi um governo que assumiu com baixa governabilidade, com minoria no Congresso Nacional e também em termos de governadores. Um governo que aceitou tomar as medidas a partir do consenso. Mas estavam os ortodoxos que defendiam um ajuste rápido frente ao que tinha deixado o outro governo. A grande virtude do governo atual (que assumiu em dezembro de 2015) foi não ter aceitado esta proposta. Se tivesse aceitado teríamos duas consequências nefastas: o aumento da desigualdade, e os mais humildes seriam os primeiros a pagar este ajuste, e também teria surgido um problema de governabilidade. Porque seria difícil administrar o conflito social.

O governo seguiu, como dizem aqui, a opção do gradualismo.

E o gradualismo é uma questão complexa, difícil, que requer sintonia fina e acordos permanentes para resolver várias coisas. Mas que pode ser muito mais consistente e ser uma solução de longo prazo.

Mas apesar do dito ‘gradualismo’ muita gente reclama do aumento das tarifas, do dinheiro que não chega ao fim do mês. E ao mesmo tempo, porém, o macrismo foi o mais votado na eleição legislativa, no ano passado.

Aí estão as contradições. Porque a estratégia da oposição era dizer que este é um governo neoliberal, que faria ajuste e que abandonaria as políticas sociais e que faria a repetição de esquemas que vimos antes, com linhas ortodoxas e conservadoras. Mas este governo é diferente. Não é a réplica destes esquemas. No início, o governo Macri teve apoio da classe média porque Macri significava que o governo anterior (de Cristina Kirchner) não continuaria. Já as classes menos favorecidas, achavam que perderiam as ajudas do governo. Mas, ao contrário, as ajudas foram mantidas e ampliadas. Além disso, Macri ganhou no ano passado porque já se percebia a recuperação da economia, que de fato já está ocorrendo.

Mas a inflação continua alta e é provável que a meta não seja cumprida novamente neste ano.

A inflação é um problema sério. Em 2016, existiam dois atrasos muito fortes que o governo devia corrigir. O tipo de câmbio e os subsídios das tarifas públicas. E isso é doloroso e acelera a inflação. Mas o governo buscou proteger os setores de menores recursos. Mas há um setor muito importante da classe média, que é o que agora tem que pagar esse processo de organização da economia.

O senhor se refere às tarifas dos serviços públicos?

Sim, às tarifas em particular. E é uma medida impopular e dolorosa. Mas as pessoas aqui se acostumaram, durante uma década, a preços baixos, que pareciam presentes, no caso, por exemplo, do gás, da eletricidade. Quando a gente olha em termos macroeconômicos, no governo anterior os mais favorecidos com as tarifas baixas eram os setores médio e alto.

Mas a inflação não engole também o poder aquisitivo dos salários e dos planos sociais?

Eles já estão ganhando levemente da inflação, ao contrário do que ocorreu em 2016. Em 2017 e em 2018, o poder aquisitivo dos salários, das aposentadorias e dos planos sociais passou a ficar levemente acima da inflação.

Mas os críticos apontam a alta do dólar e a falta de um plano econômico coordenado.

Eu acho que existe sim um conjunto de medidas. Mas há quem defenda um ministro coordenador...

Tem gente que diz que esse ministro é o próprio Macri.

De certa forma é Macri e também as duas pessoas principais na Chefia de Gabinete da Presidência, (Mario) Quintana e (Gustavo) Lopetegui.

O governo diz que a inflação começará a cair a partir de maio. O senhor acha que é possível?

Todos os indicadores apontam que sim, mas é levemente descendente. Em geral, as expectativas dos mercados e dos agentes econômicos concordam que a inflação vai desacelerar, mas ficando acima da meta prevista pelo governo.

Ou seja, não será a inflação de 15%, como diz a meta do Banco Central, e também não será a de 19%, como prevê o FMI.

A expectativa do mercado é levemente acima de 20%.

E o que o senhor acha?

Não costumo fazer previsões estatísticas. Mas, claramente, se o governo tivesse colocado como meta uma inflação acima de 20%, a inflação seria maior ainda, devido às expectativas, às negociações salariais e à formação de preços.

Na semana passada, o dólar subiu aqui e em outros países também. Mas aqui gerou preocupação especial pelo nível de venda de reservas do Banco Central para conter a alta da moeda americana.

O dólar é sempre um tema sensível aqui. Após tantas hiperinflações aprendemos a nos refugiar no dólar. Mas por sorte o câmbio é flexível e o Banco Central, que em 2015 não tinha dólares de reservas, conseguiu recompor quase US$ 60 bilhões de reservas e hoje tem maior possibilidade...

Hoje fica a impressão que este governo tem dois trilhos diferentes. Um, da construção civil em alta, da imagem positiva da Argentina e de Macri lá fora. Mas existe o outro trilho, o do cotidiano das pessoas, com a inflação.

Aí sim temos um problema. Mas o governo precisava resolver o câmbio e as tarifas e isso gera inflação. Além disso, o governo anterior gerou déficit fiscal. Mas, sem dúvida, o sucesso de uma política contra a inflação vai ter um impacto forte. A verdade é que o governo fez um diagnóstico otimista, acreditando que com a reinserção no mundo e com uma política mais razoável rapidamente teria também o controle da inflação. Mas neste caso não teve os resultados esperados. Isso é lento. E as pessoas têm razão de reclamar. Além disso, a pressão tributária é muito alta na Argentina. Então, a classe média reclama da inflação e da carga tributária. Mas seus recursos já melhoram, porém devagar.

Na semana passada foi a estreia do Plano Público Privado (PPP), um dos pilares da área de investimentos do governo. No governo comemoraram a quantidade de ofertas para as primeiras licitações. Mas qual é a sua perspectiva para a economia argentina?

Primeiro, hoje, para o setor moderno da economia, que tinha barreiras fortíssimas, os novos marcos regulatórios e o novo clima de negócios lhe permitem ter um desempenho muito mais positivo.

O que o senhor chama de setores modernos?

A bioeconomia, com toda a coluna agroindustrial, e que não é somente a produção de grãos e de carnes, mas a Argentina tem uma produção muito sofisticada em sementes, genética e serviços de apoio à produção e etc. Ao mesmo tempo, o governo tem dado muito apoio para as energias renováveis, com sistema de preços e regulações muito favoráveis. E também estão voltando à carga projetos de mineração e de energia onde, o mais emblemático é Vaca Muerta (complexo energético na Patagônia). Outro setor que está relativamente bem é aquele baseado no conhecimento, onde a Argentina tem dezenas de empresas que exportam US$ 8 bilhões por ano, com vários unicórnios com bom desempenho...

Mercado Livre, Despegar (no Brasil, Decolar)...

Exatamente. Estas e outras. Outro setor que também está funcionando bem é o do investimento público na construção. O governo teve que organizar os sistemas licitatórios e demorou em se lançar nesta área, mas hoje são mais eficientes, mais transparentes e com um custo 30% ou 40% menor do que se fazia antes. E isso se complementou com a iniciativa privada e isso é muito bom para a economia. Com isso, a construção civil e as indústrias derivadas melhoraram muito. Cimento, siderúrgica, e etc.

Ou seja, uma parte da economia já anda bem. Mas onde não vai bem?

Antes de responder a essa pergunta, é bom acrescentar que a indústria automotiva também vai muito bem. E a retenção da queda da economia brasileira foi muito importante para a recuperação desse setor da Argentina. Hoje, setores da economia avançam claramente, apesar do alto custo de produção e de logística do país.

Onde não vai bem, por uma série de fatores, é no nível de consumo, que já vem em dificuldades desde o governo anterior. E claro que isso gera mau-humor social.

Qual a sua opinião sobre o endividamento no governo Macri?

Talvez o item apontado pelos mais críticos seja este. Mas se quero fazer um programa gradualista, com redução do déficit fiscal, se quero manter os programas sociais e aceito que a política de emissão monetária, o único financiamento que resta é o do financiamento externo. Diante disso existe um ponto positivo de herança do governo anterior, que o nível de endividamento público e também privado da Argentina era baixo. Então, até agora o nível de endividamento não afeta a solvência do Estado. Mas no longo prazo saberemos se o endividamento do governo será parte da solução. Se servirá para melhorar a equidade e a competitividade da economia e se o modelo econômico deixará de lado o consumo como único motor da economia e se o investimento e a exportação passarão a ter um papel mais forte. Nesse caso, o financiamento é útil para fazer uma mudança grande no funcionamento da economia. Mas se o endividamento só servir para financiar consumos privados e consumos dos setores mais altos da população e se houver irresponsabilidade na administração do gasto público, o que teremos será a inconsistência de pagar por este endividamento sem ter melhorado a base produtiva.

Quando saberemos?

Hoje temos sinais contraditórios, mas são dilemas que serão resolvidos ao longo do tempo. Tem gente que diz que este governo não tem políticas produtivas. É verdade que não tem um relato de políticas produtivas, como o governo anterior tinha. Mas acho que a sensatez nos levou a saber, nos últimos meses, que temos que resolver os problemas concretos de todos os setores produtivos. Isso já foi feito nos setores que já comentamos (modernos). Agora, com o tempo, saberemos se (o endividamento) é parte ou não de um problema com o qual vamos repetir, ou não, experiências do passado argentino, quando o endividamento acabou em crises.

Estamos na metade do caminho?

Sou otimista e acho que fizemos avanços muito grandes, mas temos temas para resolver. Sim, estamos na metade do caminho.